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José Padilha contando a vida de Marielle: será uma história para unir o Brasil?

Foi anunciado que Jose Padilha vai filmar a vida de Marielle, com financiamento da GloboPlay. Isso é uma grande notícia!


Afinal, é uma história que precisa ser contada e Padilha é um cineasta que já mostrou ter três coisas fundamentais para um bom cineasta: talento para montar a equipe certa, ponto de vista claro e inusitado, e senso de oportunidade. Ha quem critique-o por ser oportunista. Mas ser oportunista é uma qualidade fundamental para artistas que fazem filmes de impacto, como ele se propõem.


Além disso, é muito importante o movimento realizado pela Globo de disputar os direitos de uma série com a Amazon. Isso aumenta a concorrência, o que é bom para os artistas e criadores, e coloca uma empresa de capital nacional no grande jogo.


No entanto, a repercussão nas redes sociais foi negativa. Imediatamente uma parte da classe artística ficou chocada: como um cineasta que apoiou a Lava Jato pode contar a vida de uma líder de esquerda?


Eu, no entanto, vou no caminho contrário dessa critica. Acredito que são paradoxos como esse que podem contribuir para a criação de histórias que realmente unam o Brasil.


A história de Marielle é a de uma líder negra que enfrentou a milícia. Para ser bem contada precisamos de todos os pontos de vista. Os direitos eram da roteirista Antônia Pellegrina, casada com o deputado Marcelo Freixo (PSOL). Foi ela que de forma inteligente negociou os direitos com José Padilha. Isso pode ser uma traição aos valores de esquerda que ela compartilha? Bem, claro que pode ser visto assim. Mas eu prefiro ver como uma aliança.


Justamente por ter feito Tropa de Elite, um filme sobre o surgimento da milícia no Rio de Janeiro - filme que agradou muito os futuros bolsominions, diga-se de passagem - Padilha pode construir uma obra que consiga "conquistar" também o coração dos fãs da direita. Claro que os assassinos da milícia devem os vilões da série. Mas até para construir vilões e preciso generosidade e atenção. Um criador tem que saber amar seus vilões, compreende-los, ter real interesse por eles. E Padilha já demonstrou que entende de policiais milicianos.


Antônia Pellegrina, por sua vez é uma mulher de esquerda, compartilha de uma visão de mundo que a aproxima de Marielle, a tendo conhecido pessoalmente. Se realmente dividirem o poder criativo e souberem misturar os pontos de vista Padilha e Pellegrina poderão construir uma obra complexa e surpreendente, que desperte diálogos reais na sociedade brasileira.


Pode ser uma história que una o Brasil.

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