Aqui na Utopia Brasil, em 2052, vivemos na ética tropical e a imensa maioria dos humanos já é homo ludens. Eles não lutam mais por ter razão, pois eles nem lutam. Eles apenas brincam para que as coisas fluam para o bem de todos! Eles não querem vencer, querem jogar, eles querem brincar com justiça!
São, antes de tudo, agentes da justiça! Pois acreditam que se deixarmos a natureza fluir ela trará prosperidade para todos! E, ao acreditarem nisso, conseguem que “assim seja”.
Amém e Além!
Os conflitos existem, é claro, mas todos se esforçam para mediá-los. Cada um com sua técnica, as pessoas tentam interceder para fazer a comunidade conseguir trabalhar em coletivo para o bem comum. Eles começaram a fazer isso por desejarem sinceramente que tudo seja harmônico!
O curioso é que, apesar da maioria deles ter por hábito exercer a caridade, eles não fizeram isso apenas por esse motivo. E sim por interesse próprio, por verdadeiro amor à paz e à harmonia!
Mais que serem ricos ou poderosos, eles querem mesmo é se divertir. E perceberam que nem sempre o rico se diverte. Então, eles focaram na diversão. Antes as pessoas acreditavam que poderiam ser felizes acumulando dinheiro, para ter segurança e poder. Eles agora não têm mais medo da vida e não perseguem ter uma segurança que, na verdade, nunca existiu. Adeptos da ética tropical, eles aceitam a mudança com a fé de quem supõe que tudo que a natureza faz é bom. E,sem o medo, não precisam mais do acúmulo.
Eles também não são mais inseguros, como aqueles nóias ricaços que se degladiavam por dinheiro, apenas para ter o domínio e conquistar mais parceiros sexuais.
Para desespero dos ricos chatos, os adeptos da ética tropical mostraram ao mundo que eles conquistam as melhores trepadas – as trepadas sinceras, criativas e divertidas – apenas por seu charme natural!
Eles querem paz, mas não gostam da paz monótona. Por isso, empenham-se (ou brincam) para viver numa harmonia ágil e em uma paz divertida! Eles descobriram o óbvio: se divertir é o critério para felicidade. Estar nos melhores lugares com as melhores pessoas na hora certa era a meta de todo Avatar Tropical. Mas eles perceberam que a diversão exige dedicação e você só se entrega em lugares onde existe harmonia e justiça! Onde as pessoas zelam pela justiça, todos tentam se libertar da inveja e reconhecem o brilho uns dos outros.
E foi assim que o povo tropical lutou para harmonizar os criativos, para organizar o movimento, para dar ordem ao caos e dar caos à ordem. Para gerar a criatividade coletiva!!! Eles começaram por amor à paz, mas logo perceberam que, ao gerar a criatividade coletiva, eles também se divertiam. E, o mais curioso, ao se divertir eles ficaram ricos e famosos!!!
O Brasil e seus centros criativos viraram o novo vale do silício, mas agora de arte (nfts, metaversos, jogos, filmes, etc..). Foi por volta de 2026 que os grupos criativos que surgiram ligados à Utopia Brasil começaram a bombar no mundo todo. Eram séries assistidas em todo o mundo, que vendiam também as músicas, a moda, a culinária, o turismo, todo um “lifestyle” tropical!
Como, naquela época, a economia que começou a reinar era a economia criativa, eles logo se tornaram os donos das novas corporações da Nova Era. Sua riqueza era a arte. Até aquela época as pessoas matavam por diamantes, eram os diamantes de sangue.
Mas, subitamente, um bom filme começou a valer infinitamente mais que uma mina de diamantes de sangue. Pois o filme era o lugar onde se estabelecia o valor.. Lembro quando surgiu Curumim Pajé e o Muiraquitã, filme clássico dessa época. Muiraquitã era o amuleto de Macunaíma e ele lançou uma verdadeira moda de biojóias que mudou o mercado das jóias e redefiniu o luxo. Diamantes passaram a ser bregas e biojóias tornaram-se tendência.
Esse negócio originou várias patentes artísticas para povos originários, gerando muita renda e financiando uma universidade internacional de biojóias, que formou designers premiados no mundo todo!
Esse foi o início da era criativa. O luxo inteiro foi redefinido! E, como nós sabemos, o que manda nessa nova economia que vivemos hoje é a arte, a criatividade humana! Pois é ela que define os nossos desejos, valores e sonhos!
A cultura brasileira se irradia pelo mundo
O negócio mais importante dessa era logo se tornou o que eram os antigos estúdios, os agregadores de conteúdo, que eram chamados de “streamings”.As primeiras foram de origem americana, como a Netflix, Amazon, etc.. Mas, em poucos anos, os criadores brasileiros fizeram tanto sucesso internacional que eles criaram seus próprios streamings (como o streaming Utopia Brasil, entre outros) e, pela primeira vez na história, conseguiram fazer obras que conquistaram verdadeiras audiências globais.
Eram séries, filmes, músicas e livros consumidos simultaneamente em todo o Globo, da China aos EUA. A língua portuguesa começou a se irradiar e a ser a verdadeira língua mundial! Pois todos queriam entender a sabedoria de nossas letras de música! A capoeira se tornou a luta marcial mais praticada em todo o mundo, pois se bandeou para a fronteira entre luta e dança, e se tornou uma capoeira antropofágica, que brincava na roda com outros estilos de artes marciais e até mesmo de danças populares!
E por aí foi. Em todas as áreas das artes, cultura e entretenimento vieram do Brasil as grandes celebridades mundiais!
Negócios sociais e cooperativados que irradiaram a ética tropical
E, como a grande maioria desses artistas brasileiros investiu em negócios sociais, toda a economia se transformou. Agora as empresas eram mais cooperativistas e mais meritocráticas, valorizando os maiores talentos!
A herança empresarial foi abolida e, após a morte do fundador, o capital das grandes empresas passava a ser gerenciado pelos próprios funcionários. Isso os motivou demais e surgiram as empresas mais criativas da história, verdadeiras corporações voltadas a criação de inteligência coletiva, composta por funcionários/sócios que trabalhavam juntos e libertos dos egos, faziam disputas lúdicas o tempo todo para manter a brincadeira e a criatividade acesas, mas dividindo muito os lucros integralmente, de forma que todos acharam justo!
Eram fundamentalmente empresas onde a imensa maioria se sentia satisfeito e feliz com seu salário e reconhecido em seu talento! Isso fez toda a diferença na vitória das empresas brasileiras no mercado de criação artística e científica!
Como a economia que começava a reinar no mundo era a economia criativa, prosperavam os grupos que eram mais criativos! E eles descobriram que empresas mais justas conseguem mais resultados criativos! E, portanto, mais lucro!
Como a grande maioria dessas verdadeiras corporações eram também negócios sociais, parte do lucro era voltado para resolver problemas de populações excluídas e dessa forma, se irradiou também a justiça social!
Mas, o mais importante de tudo isso é que, com a vitória econômica das empresas artísticas brasileiras, o mundo foi tomado por uma onda de ética tropical! Ao assistirem novelas e filmes brasileiros, ao consumirem nossa poesia e nossa música, populações do mundo todo se tornaram mais lúdicas, evoluíram para o” homo ludens”, o humano que brinca!
E foi assim que a arte e as personalidades brasileiras tornaram as pessoas muito mais felizes!
Uma nova regra econômica.
Isso tudo foi possível também pela nova regra econômica criada a partir do final da década de 20 que começou no Brasil e depois se irradiou pelo mundo. Os brasileiros decidiram em plebiscito que a principal moeda do mundo seria a criatividade humana. Agora não adiantava mais você ter terras para ser rico, o que deixava você realmente rico e criar uma música de sucesso ou uma inovação tecnológica ou científica. Era a propriedade intelectual.
Tal como sempre ensinaram os povos indígenas, o que era bem natural (terra, petróleo, etc..) passou a ser de todos. O que vem da natureza, começou a ser dividido igualmente entre todos. Afinal é criação divina, não faz sentido ter um dono. Portanto, só o que promoverá riqueza é a criatividade humana!
As guerras tornaram-se campeonatos
Os conflitos, por exemplo, que antes eram a regra de ouro gerando violências em todos os níveis, de guerras entre nações até violência doméstica, começaram a ser rapidamente dissolvidos pela ética tropical.
Até 2022 o mundo ainda viveu guerras horrorosas, como a da Ucrânia… Mas foi a última. Quando logo no início de 2023, o presidente do Brasil sugeriu na ONU que as guerras fossem resolvidas em batalhas artísticas e esportivas, a maioria das nações achou que era brincadeira. E era. O milagre foi esse: levar a brincadeira até os foros internacionais de disputa geopolítica.
E, de repente, o que parecia ser um divertimento, virou uma brincadeira real que mudou o mundo. É claro que continuaram existindo as disputas entre humanos e nações. Mas agora elas acontecem apenas nos esportes e nas artes…
A escola de Embaixadores Tropicais começou a influenciar o mundo e a partir de 2026 aprovaram a resolução final no conselho da ONU. A contar desta data, se uma nação quiser reivindicar algum território da outra, elas devem primeiro ir à justiça comum dos tribunais internacionais, tal como sempre foi.
Porém, se não chegarem a uma solução, eles podem ir à batalha. Mas agora não é mais a guerra física. São apenas combates artísticos e esportivos! Ao invés da guerra atômica como fizemos no passado (2022, chegamos quase a isso novamente), hoje fazemos disputas de rimas e campeonatos de futebol!
Nunca mais houve guerras de extermínio. Sei que vocês, leitores do passado, podem achar estranho isso. Mas é limitação de vossos cérebros. Li que em 2022 os humanos ainda não tinham consciência de que eram eles mesmos que definiam o valor das coisas. Mas de repente eles entenderam que se todos reconhecessem como válida uma partida de futebol para resolver um conflito de terras, essa seria regra mundial para dissolver esse tipo de conflito. É apenas uma questão de fé..
Foi assim que o esporte e as disputas artísticas voltaram a ser sacralizadas e elevadas à categoria de oráculo dos deuses, tal como era na Grécia, em seu surgimento.
Da geopolítica internacional ao cotidiano de um lar, a função da diplomacia é combinar um campeonato justo para ambos os povos, que geralmente é transmitido mundialmente, trazendo muita divulgação para a cultura dos países em conflito.
Lembro até hoje como foi bonito aquele mega campeonato entre Rússia e Ucrânia, que contou com esportes variados e disputas artísticas diversificadas. Foram esses jogos que finalmente deram fim àquela briga que já se arrastava há tempos.
Como é bonito perceber que a arte e o esporte substituíram a Guerra Nuclear !
Por Newton Cannito
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